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Funai critica divulgação de foto de índios isolados no Acre
23/12/2016 23:48 em Mundo

A Fundação Nacional do Índio (Funai) divulgou uma nota nesta sexta-feira (23) para criticar a divulgação de fotos de uma tribo indígena isolada que fica na fronteira do Acre com o Peru.

Para a Funai, as fotografias demonstram "desrespeito" e "violência simbólica" aos índios da região que, segundo a entidade, se mantêm isolados "por decisões próprias".

A descoberta da tribo, segundo o sertanista José Meirelles, ocorreu quase que por acaso. Ele afirmou que, quando ele e o fotógrafo Ricardo Stuckert sobrevoavam a área de floresta no Jordão a bordo de um helicóptero, precisaram desviar o percurso em razão do mau tempo e, com a lente de alta definição, o fotógrafo conseguiu avistar a tribo.

"O teor invasivo do sobrevoo e, consequentemente, das fotografias pode ser percebido no semblante de terror dos indígenas e na postura de ataque ao empunhar arcos e flechas contra a aeronave, conforme registrado na própria reportagem. Os efeitos de uma violência simbólica desse nível são social e culturalmente imensuráveis", diz a nota.

Em outro trecho, a fundação afirma "refutar" argumentos que defendem que esse tipo de trabalho pode contribuir para a defesa dos indígenas, "uma vez que atende somente aos interesses de venda de notícias sensacionalistas, não segue estratégias de proteção territorial e se omite diante dos direitos dos povos indígenas".

"Prova disso é o fato de que o trabalho foi realizado à revelia dos trâmites necessários ao controle de acesso a Terras Indígenas, inexistindo autorização de ingresso ou observância do direito de imagem", acrescenta a Funai.

Nota

Leia abaixo a íntegra da nota divulgada pela Funai:

Nota sobre publicação de imagens de povo indígena isolado

A Funai vem a público manifestar-se diante da reportagem veiculada pela National Geographic, "Stunning New Photos of Isolated Tribe Yield Surprises", repercutida por diversos meios de comunicação, na qual o fotógrafo Ricardo Stuckert apresenta fotos de povo indígena isolado no estado do Acre.

Primeiramente, a reportagem demonstra desrespeito aos povos indígenas isolados ao expor publicamente indígenas que se mantém em isolamento por decisões próprias. O teor invasivo do sobrevoo e, consequentemente, das fotografias pode ser percebido no semblante de terror dos indígenas e na postura de ataque ao empunhar arcos e flechas contra a aeronave, conforme registrado na própria reportagem. Os efeitos de uma violência simbólica desse nível são social e culturalmente imensuráveis.

A instituição refuta argumentos que defendem que esse tipo de trabalho pode, de alguma maneira, contribuir para a defesa dos povos em questão, uma vez que atende somente aos interesses de venda de notícias sensacionalistas, não segue estratégias de proteção territorial e se omite diante dos direitos dos povos indígenas. Prova disso é o fato de que o trabalho foi realizado à revelia dos trâmites necessários ao controle de acesso a Terras Indígenas, inexistindo autorização de ingresso ou observância do direito de imagem, o que configura violação de direitos fundamentais preconizados na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.

A legislação indigenista tem mecanismos de proteção aos povos indígenas isolados e de recente contato, de maneira que a Funai tomará providências para a devida responsabilização dos autores e envolvidos, assim como para o resguardo dos povos indígenas em questão.

Fundação Nacional do Índio (Funai)

Brasília, 23 de dezembro de 2016

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