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Morre, aos 78 anos, a líder comunitária Dona Raimunda "Quebradeira de Coco"
07/11/2018 23:01 em Notícias

Morreu, pouco depois das 19h desta quarta-feira (7), aos 78 anos, Raimunda Gomes da Silva, a quebradeira de coco e líder comunitária de São Miguel do Tocantins que cou conhecida mundialmente como Dona Raimunda.

Ela morreu em casa, no povoado Sete Barracas, zona rural do município.

Conforme o agente de saúde do povoado Sete Barracas, Dona Raimunda esteve internada no Hospital Regional de Augustinópolis há duas semanas, onde recebeu medicação e chegou a ficar na sala semi-inetnsiva, mas depois quis retornar para a comunidade onde morava.

Em casa, ela seguiu tomando a medicação repassada pelos médicos e apresentou leve melhora, segundo o agente de saúde.

Nesta quarta-feira (7), Dona Raimunda piorou e chegou a ser atendida pelo médico na própria comunidade. No início da noite, ela passou mal e não resistiu. A líder comunitária morreu em casa por volta das 19h10.

A prefeita de São Miguel, Elisangela Alves, decretou luto oficial de três dias e feriado municipal nesta quinta-feira (8). O corpo de Dona Raimunda deve ser velado e enterrado no Povoado Sete Barracas.

Perfil

Raimunda Gomes da Silva, nascida e criada em Novo Jardim (MA), filha de agricultores, com 10 irmãos, casou-se aos 18 anos, teve uma vida difícil, decidiu abandonar o marido 14 anos depois e criar sozinha os seis filhos, trabalhando como lavradora.

Baixinha de traços e personalidade fortes, na sua fala simples, misturava temas do cotidiano para tocar em feridas sociais em seus discursos, seja nas comunidades agrícolas ou nos palácios por onde passou. Nunca estudou, mas foi uma líder nata, de visão política apurada.

Em 1991 fundou, junto a outras mulheres, a Associação Regional das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do Papagaio (Asmubip).

Começaram a promover encontros para discutir seus direitos, primeiro nos municípios mais próximos e, em seguida, nos estados vizinhos. Logo, em 1992, criaram o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que hoje é atuante nos estados do Pará, Tocantins, Piauí e Maranhão.

Cheia de fibra tal como dos cocos dos quais arrancou o sustento, Dona Raimunda trabalhou, lutou, e venceu.

Aos 20 anos aprendeu a assinar o nome e tornou-se porta voz de 400 mil trabalhadoras rurais extrativistas, em defesa do meio ambiente e dos direitos das mulheres. Em sua trajetória, foi responsável pela Secretaria da Mulher Trabalhadora Rural Extrativista do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS).

Devido a atuação na defesa dos direitos das mulheres trabalhadoras da região do Bico do Papagaio, recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Tocantins e prêmios como o Diploma Mulher-Cidadã Guilhermina Ribeira da Silva (Assembleia Legislativa do Tocantins) e o Diploma Bertha Lutz (Senado Federal) concedido às mulheres que ofereceram relevante contribuição na defesa dos direitos da mulher e questões de gênero no Brasil.

Em 2005, integrou a lista mundial das mil mulheres que concorreram ao prêmio Nobel da Paz. Atualmente, no segundo casamento, com o também aposentado Antônio Cipriano, adotou o sétimo filho, Moisés, órfão de um líder sindical assassinado na década de 1990.

Devido à idade avançada e às doenças, Dona Raimunda estava longe do ativismo. A ex-quebradeira de coco já quase não saía mais de sua casa por causa dos problemas de saúde. “O fato de ganhar esses prêmios todos não mudou em nada na minha vida, eu continuo da mesma forma, vivendo do mesmo jeito. O reconhecimento só me fez ter ainda mais responsabilidade. A luta continua. Eu não quero morrer matada, quero morrer na cama, sou feita do pó da terra, e é pra lá que voltarei”, disse em entrevista a Assessoria da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário.

(*Com informações da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário) 

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