Antonio Palocci foi por quase duas décadas o principal elo do PT com o mercado financeiro. No primeiro governo Lula, deu ao Ministério da Fazenda um perfil ortodoxo até ser levado a deixar o cargo, em 2006, acusado de manter relações impróprias com lobistas. No ano seguinte, montou uma consultoria que faturou cerca de R$ 35 milhões em quatro anos. Os valores vieram a público em meados de 2011, quando, alçado novamente ao centro do poder, ele comandava a Casa Civil da presidente Dilma Rousseff. Em vez de detalhar os serviços prestados, Palocci preferiu manter a boa relação com os clientes preservando suas identidades — e pediu o boné.
Em função desse histórico, parte do mundo empresarial prendeu a respiração quando o ex-ministro foi preso em setembro de 2016. Há muito a Lava-Jato e seus desdobramentos já haviam revelado relações espúrias entre construtoras e empresas do setor produtivo com políticos. Mas era sabido que Palocci tinha relações com um grupo importante e ainda preservado: o setor financeiro. Os repórteres Aguirre Talento e Bela Megale revelaram nesta sexta-feira que Palocci incluiu os principais bancos do país em sua delação.
De acordo com o ex-ministro, Bradesco, Safra, BTG Pactual, Itaú Unibanco e Banco do Brasil teriam feito doações às campanhas do PT em troca de favores durante os governos Lula e Dilma. O interesse ia desde informações privilegiadas em relação a mudanças na taxa básica de juros, a Selic, até o pedido de apoio do governo na defesa de interesses privados das instituições e seus acionistas.
Se as investigações comprovarem a delação, restará uma última grande fronteira inexplorada pela Lava-Jato: o Poder Judiciário. Em entrevista à revista Época desta semana, o próprio juiz Marcelo Bretas admite que este é o ponto fraco da investigação : "A operação deixou a desejar em relação ao Judiciário e ao Ministério Público". Até o momento, todas as delações que ameaçaram envolver juízes acabaram derrubadas.
Fonte: O Globo