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Arcebispo 'adapta' discurso com Bolsonaro em Aparecida
13/10/2019 02:01 em Notícias

O arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, criticou a direita, a quem chamou de "violenta e injusta", na missa da manhã de ontém (12) em homenagem à padroeira do Brasil, no Santuário de Aparecida (SP).

 

"Temos o dragão do tradicionalismo. A direita é violenta, é injusta, estamos fuzilando o papa, o Sínodo [da Amazônia], o Concílio Vaticano 2º", afirmou.

 

Dom Orlando "adaptou" o sermão, porém, na celebração da tarde, que tinha entre os ouvintes o presidente Jair Bolsonaro.

 

"Lembrei dos dragões das ideologias. Ideologias são interesses pessoais tanto da direita, quanto da esquerda", disse dom Orlando.

 

Segundo a assessoria da basílica de Aparecida, Bolsonaro é o primeiro presidente em exercício a visitar o templo no dia da padroeira. Outros presidentes que visitaram o local o fizeram quando candidatos.

 

Bolsonaro chegou ao santuário às 15h55. Sobressaíram-se os aplausos, mas vaias foram ouvidas.

 

Sentou na primeira fileira e ouviu atento às palavras do missionário irmão Carlos Cunha. Aplaudiu quando ouviu as exclamações "Viva o Brasil! Viva a nossa nação!".

 

Recolheu as mãos na sequência, quando as frases proferidas mudaram para "Viva o papa Francisco! Viva o Sínodo da Amazônia!".

 

Ouviu alguma recomendação ao pé do ouvido do arcebispo de Aparecida, que normalmente conduz apenas a missa solene. "Pode deixar, pode deixar", respondeu Bolsonaro.

 

A Amazônia foi lembrada nas duas celebrações. Pela manhã, Dom Orlando elogiou o Sínodo da Amazônia, reunião de religiosos e especialistas dos nove países do bioma com o papa Francisco, que acontece no Vaticano.

 

"Bendito seja o Sínodo da Amazônia, que está pensando na vida daquelas árvores, daqueles rios, daqueles pássaros, mas principalmente daquelas populações."

 

A assembleia foi convocada pelo papa há dois anos para debater a ação da Igreja Católica na região e a situação do meio ambiente e dos moradores. São 258 participantes, que se reúnem até o dia 27 de outubro.

 

O governo Bolsonaro é crítico do sínodo, a quem acusa de violar a soberania brasileira em relação à Amazônia.

 

Uma hora e meia antes da chegada do presidente, seguranças evacuaram o santuário para revistar a basílica. A atitude incomodou cansados fiéis e preocupou o padre Luiz Cláudio Alves de Macedo.

 

"Gostaria de lembrar aos seguranças que, às 15h, teremos a missa de Consagração e não queremos o santuário esvaziado. Recebemos o presidente da República com muita alegria, mas receberemos com mais alegria ainda os demais devotos. Por favor, iniciem a entrada do povo."

 

O apelo funcionou. A missa das 15h lotou. A estimativa é de que 145 mil pessoas passaram pelo santuário durante todo o dia.

 

Não havia camisetas ou bandeiras de apoio a Bolsonaro, mas o clima era de ansiedade. "Você vai ficar para ver o Bolsonaro? Mas você nunca foi fã dele", questionou uma mulher ao seu parceiro do lado de fora da igreja.

 

No altar, Bolsonaro proclamou o "Livro de Ester". A personagem, em dado momento, se dirige a um rei: "Se for do teu agrado, concede-me a vida -eis o meu pedido!- e a vida do meu povo -eis o meu desejo!".

 

O presidente deixou o santuário sem falar com a imprensa e embarcou para São Paulo, onde deve assistir ao jogo entre Palmeiras e Botafogo, no estádio do Pacaembu, na noite deste sábado.(Gabriel Rigoni/FolhaPress SNG)

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