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A desigualdade mata. Morre uma pessoa a cada quatro segundos
18/02/2022 22:45 em Notícias

A pandemia do coronavírus, que já ultrapassou 100 milhões de infecções e matou mais de 2,1 milhões de pessoas em todo o mundo, colocou a desigualdade em destaque. As desigualdades não só geram imenso sofrimento, como contribuem para a morte de pelo menos uma pessoa a cada quatro segundos, de acordo com o relatório sobre a desigualdade da Oxfam International. 

A reportagem é de Issabella Arria, publicada por Centro Latinoamericano de Análisis Estratégico – CLAE. A tradução é de Cepat.

 

A desigualdade mata. Contribui para a morte de pelo menos 21.300 pessoas todos os dias, em “uma estimativa muito conservadora” de mortes causadas pela fome, falta de acesso à saúde e deterioração do clima que afeta principalmente os países pobres.

 

“A crise climática afeta a todos nós, mas não de maneira igual. O 1% mais rico do mundo, cerca de 63 milhões de pessoas, é responsável por mais que o dobro da poluição por carbono dos 3,1 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre da humanidade”, garante o relatório.

 

Aumento dos mares, incêndios sem precedentes e fomes históricas. “As mudanças climáticas estão acontecendo agora. É um dos fatores mais prejudiciais para o agravamento da fome, da migração, da pobreza e da desigualdade em todo o mundo”, indica. Nos últimos anos, com um aumento global de 1°C das temperaturas, ocorreram ciclones mortais na Ásia e na América Central, ou enormes enxames de gafanhotos na África.

 

A Oxfam relata que, em diferentes sociedades, os impactos das mudanças climáticas afetam mulheres e homens de maneira diferente. Mulheres e meninas precisam caminhar mais para coletar água e combustível e muitas vezes são as últimas a comer. Durante e após eventos climáticos extremos, são elas que correm maior risco de violência e exploração.

 

Além disso, nos últimos 10 anos, mais pessoas ao redor do mundo foram forçadas a deixar suas casas por causa de eventos climáticos extremos do que por qualquer outro motivo. O número de desastres relacionados ao clima triplicou em 30 anos, e hoje há um evento climático extremo toda semana.

 

No ano passado, o mundo viu um recorde de US$ 50 bilhões em danos causados por desastres climáticos extremos exacerbados pelas mudanças climáticas, levando quase 16 milhões de pessoas em 15 países a níveis críticos de fome. E “apesar disso, os governos atrasaram as medidas para lidar com a crise climática para se concentrar na pandemia da Covid-19”, observa a Oxfam.

 

É que enquanto as grandes fortunas mundiais cresceram, os mais pobres “precisariam de mais de uma década para se recuperar dos impactos econômicos da crise”. O número de pessoas que vivem na pobreza no mundo aumentou em até 500 milhões no ano passado, de acordo com o Instituto Mundial de Economia do Desenvolvimento da Universidade das Nações Unidas.

 

Apartheid vacinal, um convite à morte 

 

Durante os últimos dois anos, muitas pessoas em todo o mundo morreram de coronavírus, porque não puderam ser vacinadas a tempo. Mas também morreram de outras doenças porque não tinham condições de pagar cuidados médicos privados, de fome porque não podiam comprar alimentos, enquanto muitas mulheres morreram vítimas de violência de gênero, ao passo que os mais ricos do mundo continuaram a enriquecer.

 

De acordo com o relatório, mais de 80% das vacinas foram para os países do Grupo dos 20 (G20) de potências industriais e emergentes, enquanto menos de 1% chegaram aos países de baixa renda, em um verdadeiro “apartheid vacinal”, que está tirando vidas e aumentando as desigualdades em todo o mundo.

 

As desigualdades não são uma questão abstrata. Elas são devastadoras e têm consequências reais. Elas fizeram a pandemia de Covid-19 durar mais, causar mais danos e ser mais mortal. Elas estão enraizadas em nossos modelos econômicos e estão devastando nossas sociedades

 

Os super-ricos, mais ricos

 

Os bilionários viram suas fortunas aumentarem em um volume total de US$ 3,9 trilhões entre 18 de março e 31 de dezembro de 2020, com os Estados Unidos, China e França obtendo os ganhos mais significativos em termos do crescimento da riqueza dos “super-ricos”. A pequena elite mundial de 2.755 bilionários viu sua fortuna crescer ainda mais durante a Covid do que em todos os últimos 14 anos anteriores.

 

A desigualdade se deve ao aumento dos preços das ações, ao aumento de entidades não regulamentadas, ao aumento do poder de monopólio e à privatização, bem como à erosão das taxas e direitos de impostos corporativos individuais e dos salários dos trabalhadores: um novo bilionário surgiu a cada 26 horas, garante.

 

Entre os dez mais ricos do mundo, a Oxfam destacou o fundador da Amazon, Jeff Bezos; o chefe da Tesla, Elon Musk; o principal acionista do grupo de artigos de luxo LVMH, Bernard Arnault, Bill Gates, da Microsoft, Mark Zuckerberg, do Facebook; Larry Ellison da Oracle; o americano Warren Buffett e o cofundador do Google, Larry Page. O chinês Zhong Shanshan, com sua marca de água mineral Nongfu Spring, e o chefe do Grupo Reliance, da Índia, Mukesh Ambani, completam a lista.

 

“As economias manipuladas estão canalizando riqueza para uma elite rica que está enfrentando a pandemia com luxo, enquanto aqueles que estão na linha de frente da pandemia (funcionários, profissionais da saúde e vendedores de mercado) lutam para pagar as contas e colocar comida na mesa”, relata a Oxfam.

 

“Para combater essa crescente desigualdade, os governos devem garantir que todos tenham acesso a uma vacina contra a Covid-19 e apoio financeiro se perderem seus empregos”, disse Gabriela Bucher, diretora da Oxfam. “Além disso, este é o momento para investimentos de longo prazo em serviços públicos e setores de baixo carbono para criar milhões de empregos e garantir que todos tenham acesso à educação, à saúde e à assistência social”, acrescentou.

 

Essas medidas não devem ser soluções band-aid para tempos de desespero, mas um novo normal em economias que trabalham para o benefício de todas as pessoas, não apenas para alguns privilegiados”, ponderou Bucher.

 

“Todos nós perdemos quando o 1% mais rico do mundo consome o dobro das emissões de carbono dos 50% mais pobres, ou quando algumas empresas poderosas são capazes de monopolizar a produção de vacinas e tratamentos que salvam vidas em uma pandemia global”, concluiu.

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