MENU
Papel da mulher no agronegócio é tema de abertura de encontro ruralista
31/05/2022 14:54 em Notícias

Comissão criada pela Faepa pretende estreitar laços de empreendedoras rurais paraenses

A Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) iniciou nesta terça-feira (31) a 57ª edição do Encontro Ruralista do Pará, com o tema "Agro mais perto", que tem como objetivo discutir os desafios e soluções da agropecuária paraense e trocar experiências sobre as atividades no campo que são uma parcela grande da economia paraense.

O primeiro dia do evento teve como destaque a reativação da Comissão das Mulheres em Campo do Estado do Pará, uma iniciativa que busca reforçar a cooperação entre as mulheres do agro para que elas potencializem os próprios empreendimentos com eficiência e sororidade. Márcia Centeno faz parte da Comissão e conta que o projeto será, inclusive, interiorizado, para garantir que os 144 municípios possam oferecer apoio para as mulheres no ramo.

"Temos desafios em vários setores, porque a mulher muita das vezes está à frente da própria casa, mas também gerenciando o espaço ou a propriedade junto com o marido, gerenciando a família. A mulher acumula vários afazeres e compromissos que nunca acabam quando a noite chega. Sempre há um outro turno, que é o turno da família. E sempre tiramos de letra, conduzindo tudo com honradez e dignidade. É nisso que a gente está apostando. A Comissão chega para ressaltar que as mulheres não só ajudam os maridos nas propriedades rurais, mas também há muitas que estão à frente dos negócios", afirma ela, que faz parte da diretoria da Faepa.

Em 2021, uma pesquisa da Associação Brasileiro do Agronegócio apontou que 64% das mulheres da agropecuária nacional apontam a desigualdade de gênero como uma questão presente no agronegócio. 46% delas avaliam que ganham menos do que os homens. 79% delas, porém, avaliaram que a situação é melhor do que 10 anos atrás. 33% entendem que possuem menos acesso ao crédito do que os homens. Segundo o estudo, 69% delas são proprietárias ou arrendatárias, enquanto 41% possuem pós-graduação e outros 29% detém ensino médio completo. 34% delas vivem em zonas rurais e possuem a média de 40 anos. Os dados foram coletados nos estados do Pará, Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Na opinião de Cristina Malcher, pecuarista e conselheira da entidade, a presença da mulher no agronegócio paraense já é uma realidade notável e o dever da Comissão é ocupar espaços para garantir que as produtoras tenham apoio e possam se comunicar com a sociedade da mesma maneira que os homens.

"Tem muito a evoluir pois ainda precisa ter esse espaço, esse canal para que ela possa se alinhar com outras mulheres e conhecer as novidades, participar ativamente deste trabalho. 10% dos nossos sindicatos são presididos por mulheres, temos diretoras na Federação. Mais do que somente os cargos, queremos que as mulheres sejam reconhecidas pela sociedade como agentes econômicos importantes para o agro. A mulher avançou muito em outras áreas mas precisa avançar mais no agro. Digo isso porque, por conta das parcerias com maridos e filhos, elas são sempre colocadas em segundo plano. Mas a mulher tem protagonismo e precisa entender a própria importância para além de cuidar dos filhos e da casa. Os homens reconhecem mais nossa capacidade intelectual e de trabalho. Não é um processo traumático para os homens, vejo como algo tranquilo. Estamos aqui para somar", avalia. 

Teixeira conta que não faltam homens para atrapalhar mulheres determinadas

Inicialmente treinadora de voleibol, Liana Pires Teixeira hoje é produtora rural no arquipélago do Marajó. Segundo ela, não faltam homens para atrapalhar a jornada de mulheres autônomas e independentes. É por isso que elas precisam estar unidas. "Vim do esporte com a minha bagagem de treinadora, então botar a mulher em ação para resolver tudo faz parte da minha história. Já vim de um universo no qual eu era a única mulher.

A importância da comissão é até difícil de avaliar. É uma iniciativa tão gigante que a proporção dela é uma tsunami, pois o número de mulheres no agro paraense é muito significativo. As mulheres precisam de espaço e acreditar que são, que podem.  E, principalmente, fazer com que os homens que elas encontram no caminho ouçam um 'sai da frente que eu tô passando', com vontade e com fé. Porque normalmente nós encontramos homens que atrapalham, criam dificuldades, puxam tapetes", argumenta.

A deputada estadual Nilse Pinheiro (PDT) participou do evento e disse que as mulheres produtoras rurais devem ocupar espaços não só no campo, mas também nas casas legislativas e na política de modo geral. "A gente desde 2020 vinha dialogando sobre como poderíamos retomar essa comissão de mulheres no agro. Essa iniciativa mostra que a mulher tem total condição. Muitas vezes é a oportunidade que precisamos nos dar. A gente vê que essa expansão da representatividade da mulher no Pará, nas diretorias da Faepa, nos sindicatos. É muito bom poder contribuir enquanto mulher, nos integrarmos, trocar ideias e fortalecer os empreendimentos. Esse encontro nos traz momentos de aprendizagem com pessoas dotadas de conhecimento na área", diz.

O Encontro Ruralista segue nesta quarta-feira (1) com mais palestras e a presença do governador Helder Barbalho (MDB), que participará do encerramento do evento. A programação completa está disponível em sistemafaepa.com.br.

COMENTÁRIOS