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Brasil tem histórico de alto índice de violência escolar: veja dados sobre agressão contra professores
12/04/2023 12:51 em Notícias

 

“Sabemos que vai acontecer de novo, só não sabemos quando”, afirma a pesquisadora Telma Vinha, do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp.

 

Uma pesquisa feita pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) contabilizou 23 registros de ataques com violência extrema em escolas no Brasil nos últimos 20 anos. Entre 2002 e 2023, 24 estudantes morreram, além de quatro professores e dois profissionais de educação, como a professora da escola estadual de São Paulo de 71 anos morta a facadas no último dia 27 de março por um aluno.

 

O mapeamento ainda está em andamento, mas os dados são inéditos, obtidos em primeira mão pelo Estúdio i.

Para a pesquisadora Telma Vinha, da Faculdade de Educação e Coordenadora do Grupo “Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública” do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, os ataques podem ser evitados se houve um trabalho que acompanhe alunos e o comportamento deles não só na escola, mas também no seu dia a dia.

“Muitos claramente colocam na internet que vão atacar a escola. Sabemos que vai acontecer de novo, só não sabemos quando. Quando você atinge uma escola, você atinge uma comunidade. A escola faz parte da identidade das pessoas”, afirma.

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O que também tem chamado a atenção dos pesquisadores é que os ataques têm aumentado em números do ano passado para cá. Foram sete no 2º semestre de 2022 e dois este ano: um deles na capital e outro em Monte Mor, no interior paulista. “Isso é muito sério. O crescimento é exponencial”, afirma a professora Telma Vinha.

 

Violência dentro de escolas

Fonte: Instituto de Estudos Avançados da Unicamp

 

Ataques (2002 - 2023):

Escolas estaduais: 12

Escolas municipais: 7

Escolas particulares: 4

 

Vítimas fatais (2002 - 2023):

Estudantes: 24

Professores: 4

Profissionais de educação: 2

 

Motivação:

Vingança, raiva

Usuários de cultura extremista

 

Há anos, pesquisas têm indicado a alta incidência de casos de agressão, colocando o Brasil no topo da violência escolar. Veja os dados mais recentes divulgados:

 

Topo do ranking em agressões

 

Levantamento global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) coloca o país entre os de índices mais altos do mundo no ranking das agressões contra professores - e que têm se mantido estável nos últimos anos.

Ambiente mais propício ao bullying: estudo divulgado em 2019 apontou que as escolas brasileiras são ambiente mais propício ao bullying e à intimidação do que a média internacional. Foram entrevistados 250 mil professores e líderes escolares de 48 países ou regiões.

Situações de intimidação: 28% dos diretores escolares brasileiros relataram ter testemunhado situações de intimidação ou bullying entre alunos, o dobro da média da OCDE.

Abuso verbal: semanalmente, 10% das escolas brasileiras pesquisadas registram episódios de intimidação ou abuso verbal contra educadores, segundo eles próprios, com "potenciais consequências para o bem-estar, níveis de estresse e permanência deles na profissão", diz a pesquisa. A média internacional é de 3%.

Agressividade "normalizada": A OCDE não analisou os motivos por trás desses índices, mas apontou que o bullying e a agressividade acabaram sendo "normalizados" e minimizados, com impactos negativos sobre o aprendizado.

Intimidação semanal: Em 2017, estudo semelhante da OCDE mostrou que 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. Era o índice mais alto entre os 34 países pesquisados - a média entre eles é de 3,4%.

 

 

Agressão verbal, discriminação, bullying...

Na rede estadual paulista, o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp) divulga com frequência estudos sobre o ambiente escolar.

Aumento de casos: A pesquisa mais recente, de 2019, apontou que 54% dos professores já tinha pessoalmente sofrido algum tipo de violência. Em 2017, eram 51% e, três anos antes, 44%.

Violência mais comum contra professores: Entre elas, as mais frequentes eram agressão verbal (48%), assédio moral (20%), bullying (16%), discriminação (15%), furto/roubo (8%), agressão física (5%), e roubo ou assalto à mão armada (2%).

Alunos como alvo: 37% dos estudantes relataram ter sido vítimas de agressão. Em 2017, foram 39% e, em 2014, 28%.

Violência mais comum contra estudantes: bullying (22%), agressão verbal (17%), agressão física (7%), discriminação (6%), furto/roubo (4%), assédio moral (4%), e roubo ou assalto à mão armada (2%).

 

Briga teria sido o motivo

O ataque na escola estadual de São Paulo teria sido motivado por uma briga entre alunos dias atrás que foi apartada pela professora que morreu esfaqueada.

Segundo o relato de um estudante, o agressor, há alguns dias, xingou um colega de "pr3t#" e "m4cAc#", o que gerou uma briga entre eles. A professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos, foi a responsável por separá-los. O agressor, então, a ameaçou de vingança.

 

Aumento dos casos

Para a pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Betina Barros, ataques como o desta segunda-feira em São Paulo não eram comuns no Brasil e passaram a acontecer com mais frequência a partir de 2018.

Na avalição dela, isso é resultado de diversos fatores que se tornaram mais presentes neste período:

Isolamento social: durante a pandemia, os estudantes tiveram que ficar em casa, convivendo apenas com a família e dependendo da tecnologia para interações sociais.

Exposição à violência: nos espaços familiares, algumas crianças e adolescentes estiveram expostos a violência e maus-tratos.

Tecnologia: o acesso à internet sem mediação de um responsável tornou mais fácil o consumo de fóruns da internet, muitos na deep web, que disseminam ideias e conteúdos violentos. “Não à toa, muitos grupos racistas, conservadores e neonazistas se proliferam nestes ambientes”, explica a especialista.

Polarização: no mesmo período, boa parte das relações estremeceram diante da polarização sanitária, social e política no país, o que pode ter servido como combustível para ideias mais extremistas.

Tudo isso pode ter influenciado o cenário atual em que os casos de violência no ambiente escolar acontecem com uma recorrência cada vez maior.

 

Um caminho para a solução

 

A especialista avalia que um dos caminhos que podem levar à solução o problema é interseccional e deve ter trilhado por todos envolvidos na proteção da criança e do adolescente.

De acordo com ela, devem ser criados mecanismos objetivos de controle destas situações que permitam identificar onde os casos de ataque estão ocorrendo e por que ocorrem. Além disso, o bullying deve ser combatido por todos.

“Precisamos entender que qualquer tipo de bullying no ambiente escolar não é aceitável. Assim como estamos entendendo que violência contra a mulher não pode ser ignorada, a violência sofrida pelas crianças não é menor e também não deve ser normalizada”, defende Betina.

 

 

 

 

 

Fonte G1 SP/OCDE

 

 

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