O abastecimento elétrico foi quase inteiramente restabelecido entre a madrugada e a manhã desta terça-feira (29/04). Na Espanha, a REE (Red Eléctrica de España) informou que 99,16% do sistema já operava normalmente. Já em Portugal, as empresas E-Redes e REN confirmaram a recuperação integral do fornecimento.
O que causou o apagão
A origem do incidente ainda está sob apuração. As autoridades de ambos os países afastaram, até o momento, a possibilidade de ataque cibernético. Tanto o Centro Nacional de Cibersegurança de Portugal quanto o presidente do Conselho Europeu, António Costa, garantiram que não há evidências de crime digital envolvido.
A operadora espanhola REE, após análise preliminar, também descartou essa hipótese. Segundo Eduardo Prieto, diretor de operações da REE, uma perda expressiva de geração de energia no sudoeste da Espanha provocou instabilidade na rede, resultando em sua desconexão do sistema francês. As usinas deixaram de produzir subitamente cerca de 15 gigawatts de eletricidade, o que correspondia a aproximadamente 60% da demanda naquele momento.
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, apontou uma “forte oscilação” na rede elétrica da Europa como possível gatilho, embora sem uma explicação conclusiva.
Em Portugal, as autoridades alegam que o problema teve origem fora da infraestrutura nacional. A REN descartou oficialmente a hipótese de fenômenos meteorológicos como causa.
Diante da situação, reuniões emergenciais foram realizadas nos dois países. O governo espanhol acionou o Conselho de Segurança Nacional em Madri. Em Lisboa, o Conselho de Ministros acompanhou o desenvolvimento em tempo real.
As investigações continuam e, por enquanto, tanto os governos quanto as operadoras de energia evitam fazer especulações, aguardando resultados técnicos mais precisos.
Quantas pessoas foram impactadas?
A Península Ibérica tem cerca de 60 milhões de habitantes. As autoridades ainda não estimaram com precisão o número de afetados, mas o apagão causou impactos amplos em quase todas as regiões de Portugal e Espanha, além de reflexos pontuais no sul da França.
Transporte público
A queda de energia interrompeu o fornecimento em diversas redes de metrô e trens urbanos. Na Espanha, a empresa Renfe informou a paralisação de linhas importantes, como Madri-Barcelona e Madri-Sevilha.
Em Lisboa, o metrô foi suspenso temporariamente, com retomada gradual nesta terça-feira. Os comboios operados pela CP voltaram a funcionar, exceto algumas rotas de longa distância.
Aeroportos
As autoridades aeroportuárias cancelaram 29 voos em Lisboa. Nos aeroportos de Madri e Barcelona, as atividades continuaram com o uso de geradores, embora tenham ocorrido atrasos e suspensões.
Hospitais
Hospitais portugueses e espanhóis operaram com geradores de emergência. Em Lisboa, foi necessário reabastecer os equipamentos com apoio da GNR. Apesar das dificuldades, os atendimentos agendados para a terça-feira foram mantidos, e os procedimentos da segunda foram reagendados, conforme informou a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.
Comunicações
Grande parte dos serviços de telefonia e internet ficou fora do ar durante o dia, com funcionamento intermitente. A queda de energia desativou os caixas eletrônicos, e os bancos mantiveram suas agências fechadas. Algumas lojas que contavam com maquininhas a bateria e conexão mínima de internet conseguiram operar, mas enfrentaram longas filas.
Outros serviços públicos
Escolas, tribunais e repartições governamentais suspenderam suas atividades. As escolas chamaram muitos pais para buscar os filhos, o que provocou grandes congestionamentos nas principais cidades.
Ajuda da França
A fim de estabilizar o sistema, a França forneceu 2.000 megawatts à Espanha por meio das conexões que abastecem as regiões da Catalunha e do País Basco — volume equivalente à produção de dois reatores nucleares de porte médio. De acordo com a operadora RTE, o impacto do apagão na França foi breve e limitado a áreas restritas.
Há risco de novos apagões?
Apesar de pequenas falhas, o sistema elétrico francês foi restaurado rapidamente. Portanto, as autoridades locais consideram pouco provável um novo colapso, devido à robustez de sua matriz energética. Até o momento, não há alertas de riscos semelhantes na Península Ibérica.