Adepará registra 1ª agroindústria artesanal de chocolate na região do Xingu
Written by Henrique Gonzaga on 27 de março de 2025
Adepará registra 1ª agroindústria artesanal de chocolate na região do Xingu

O município de Brasil Novo, na região de integração do rio Xingu, agora possui a primeira agroindústria de chocolate artesanal registrada pela ADEPARÁ | Foto: Agência Pará
As melhores amêndoas de cacau do Pará vêm da Transamazônica
Na região de Brasil Novo e outros municípios paraenses, o cacau é cultivado em sistemas agroflorestais – uma técnica que combina o plantio com espécies nativas, garantindo sombreamento ideal e enriquecimento das amêndoas. Este modelo sustentável é a origem do cacau usado pela produtora Jiovana Lunelli em sua premiada produção de chocolates.
Primeiro registro artesanal de chocolate no Pará
A agroindústria de Jiovana, responsável pela marca “Chocolate Cacau Xingu”, fez história ao se tornar a primeira do estado a receber o registro artesanal da ADEPARÁ. O certificado atesta a qualidade do chocolate produzido de forma agroecológica e sustentável em Brasil Novo, seguindo rigorosos padrões de produção.
Diversificação que valoriza o cacau amazônico
Com a certificação, a fábrica agora pode produzir mais de 10 variedades de produtos – desde barras 100% cacau até geleias e nibs. “Este é o primeiro chocolate orgânico da Transamazônica e Xingu que segue todas as normas higiênico-sanitárias”, destaca Nelson Leite, fiscal agropecuário da ADEPARÁ.
Certificação fortalece agricultura familiar e biodiversidade
Para Lucionila Pimentel, diretora da ADEPARÁ, cada novo registro representa um avanço: “Nossa agricultura familiar está se qualificando para atender as demandas do mercado. A entrega de cada selo é fruto de um trabalho coletivo que nos enche de orgulho”, comemora, destacando o potencial dos produtos da sociobiodiversidade amazônica.
Cacau Xingu
O chocolate Cacau Xingu é produzido no processo “tree to bar” (da árvore à barra), o que significa que é um modelo que consiste na fabricação artesanal utilizando ingredientes selecionados, que vão desde a plantação do cacau até o produto final.
Além disso, esta é a primeira certificação de chocolate concedida desde a criação da Portaria No 5094/2024, que estabeleceu os procedimentos para a produção artesanal de chocolates e seus subprodutos com vistas à comercialização. A norma detalha as exigências necessárias para preservar a qualidade do chocolate produzido no Pará e as especificações de produção, acondicionamento e rotulagem. Ademais, inclui a qualidade da matéria-prima (amêndoa de cacau) e do local onde será produzido, assegurando que o produto foi elaborado em conformidade com as normas de segurança alimentar, sem risco à saúde pública.
“A certificação é importante porque dá segurança para quem produz e também para quem consome. Portanto, a gente leva um produto de qualidade até as pessoas, que passou por um processo de certificação realizado pela Adepará”, explica Jiovana Lunelli.
Na propriedade de 96 hectares, a produtora rural foi desenvolvendo a lavoura cacaueira e, com isso, com o objetivo de trazer mais renda para a família, iniciou a produção de chocolate, uma história que começa ainda na infância.
Gosto de infância
A produtora Jiovana Lunelli chegou ao Pará nos anos 1970, ainda criança. É filha de uma das primeiras famílias a plantar cacau no estado. A relação com o chocolate vem desde essa época. Aos 9 anos, fez o primeiro chocolate num curso para as mulheres agricultoras. Ela e os irmãos cresceram comendo chocolate em várias receitas que a mãe fazia. Até se aventurar e produzir o próprio chocolate, criou receitas e se aprimorou. Quando entrou para a cooperativa de cacau orgânica fez um curso oferecido pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), onde usou derivados do cacau e se diferenciou. A partir daí, aguçou a curiosidade e comprou uma máquina para trabalhar.
A produtora se diz premiada por oferecer mais que um produto, mas uma experiência da floresta amazônica. “Nós oferecemos um chocolate produzido com cacau orgânico, da agricultura familiar, produzido sem agredir a natureza, levando as pessoas a ter esse contato. Então, degustar um chocolate cacau xingu é apreciar também a floresta viva, a floresta em pé e tudo que nela tem de tão precioso. Então, para nós, prêmio é isso”.
A certificação é resultado de anos de trabalho e de parceria. “Nós agradecemos todo o trabalho que foi feito para a conquista dessa certificação, porque foi um trabalho coletivo, foi uma teia de apoio que se fez em torno disso tudo. Tivemos o apoio do Sustenta Inova através do Sebrae, do IPAM, da ADEPARÁ. Foram muitas mãos que ajudaram a construir essa história, parcerias importantes para nós que moramos distante da capital, que precisamos de assistência técnica, de consultoria, para avançar”, afirma Lunelli.
De olho na COP 30
Com um olhar no futuro, a produtora acredita que a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que ocorrerá em Belém em novembro, será uma vitrine para o chocolate que produz. “Nós vamos mostrar que o governo está preocupado com o fortalecimento da agricultura familiar, com a verticalização da produção. Nós somos a primeira agroindústria certificada na linha de Cacau e Chocolate, mas muitas e muitas outras virão dentro desse trabalho pioneiro que a ADEPARÁ está fazendo. E nós estamos muito felizes de ter conquistado essa certificação e a gente precisa avançar cada vez mais, para que a gente cresça, se fortaleça nessa região, nesse Estado”, conclui.
Produção de cacau em Brasil Novo
Segundo dados da Sedap, por meio do Procacau, o município de Brasil Novo possui 441 produtores e uma área total plantada de 14.038 hectares. Destes, 8.912 hectares são áreas em produção. A quantidade de cacau produzida é de 10.659 toneladas. A produtividade é de 1.196 kg por hectares. A produção de cacau do município corresponde a 7,4% em relação à produção total do estado, que é de 143.675 toneladas.
Fonte: Agência Pará