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'Numa outra encarnação, nós vamos indicar só gente do Ministério Público', ironiza Lula em depoimento
11/07/2017 00:50 em Notícias

Testemunha de defesa de Gleisi e Paulo Bernardo, ex-presidente negou interferência dos dois em nomeações na Petrobras

 

BRASÍLIA — Como testemunha de defesa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez mais do que corroborar as versões da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e do ex-ministro Paulo Bernardo, réus numa das ações penais da Operação Lava-Jato. Ele também provocou o Ministério Público Federal (MPF), responsável pela acusação. Quando questionado pelo representante do MPF sobre a participação do PT em indicações para a Petrobras, Lula ironizou.

— O Ministério Público, em todas as acusações, ele acha criminoso os partidos indicarem pessoas - disse Lula, concluindo: — Numa outra encarnação, nós vamos indicar só gente do Ministério Público.

— Não, a gente a não quer isso. Está fazendo juízo de valor — rebateu o representante do MPF.

Lula, que foi presidente da República de 2003 a 2010, disse que não houve interferências de Paulo Bernardo ou Gleisi Hoffmann na nomeação ou permanência no cargo do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ele também voltou a explicar como funcionavam as nomeações de diretores na Petrobras. Os nomes vinham de partidos da base aliada. Mas depois eles passavam pelo crivo da Casa Civil. Nesse momento, Lula também ironizou o Ministério Público.

— Eu tenho que explicar toda vez que faço um depoimento, por que o Ministério Público não conhece. Desconhece. Eu quero que esse processo termine com o Ministério Público conhecendo como é que se faz política de coalização no país, como é que se monta governo, como é que se faz aliança política. Então o diretor da Petrobras é indicado pelas forças políticas que compõem o governo — disse Lula, concluindo:

— No caso do Paulo Roberto, ele foi indicado pelo PP, pela bancada do PP, que indica ao ministro de Relações Institucionais, que passa pela Casa Civil, que faz a investigação através do gabinete institucional para ver se tem algum problema de processo, se tem alguma coisa que ele já cometeu. Não tendo nada, vai para o conselho da Petrobras, que indica a pessoa.

Ele também criticou algumas delações premiadas, embora sem citar nomes. A ação contra Gleisi e Paulo Bernardo é baseada nos depoimentos de dois delatores: o próprio Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Eles respondem por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e são acusados de terem se beneficiado de recursos desviados da Petrobras. Ambos negam as acusações.

— Eu não concordo com todas as acusações. Até porque elas são baseadas em algumas delações e pessoas que não merecem nenhuma credibilidade — disse Lula.

Em outro instante, Lula, apontando como nome do PT para disputar a eleição presidencial de 2018, brincou com o fato de ser candidato. Foi quando alguém pediu que ele mudasse um pouco de posição, de modo que a câmera o filmasse.

— Olha que candidato não pode ver uma câmera — disse Lula, provocando risos entre os presentes no depoimento e, em seguida, aproximando o rosto da câmera.

O depoimento ocorreu na sexta-feira passada e foi colhido pelo juiz Ricardo Rachid, que auxilia o ministro Edson Fachin, relator da ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF). O teor do depoimento se tornou público apenas nesta segunda.

Em setembro do ano passado, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) abriu ação penal para investigar a suposta participação de Paulo Bernardo, Gleisi Hoffmann e o empresário Ernesto Kugler no esquema de desvios de dinheiro da Petrobras. Por unanimidade, o colegiado aceitou a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra os três.

Segundo a denúncia, Paulo Bernardo pediu R$ 1 milhão a Costa para abastecer a campanha de Gleisi ao Senado em 2010. O dinheiro teria sido entregue por um intermediário do doleiro Alberto Youssef a Kugler, ligado ao casal. A quantia teria sido repassada em quatro parcelas de R$ 250 mil.

Atual presidente do PF, Gleisi não ocupava cargo eletivo em 2010. Empossada senadora em 2011, ela se tornou ministra da Casa Civil meses depois, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, deixando o posto apenas em 2014.

 

Fonte: O Globo

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