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Internacional: Chanceler diz que reação de embaixador chinês foi inaceitável e pede retratação
19/03/2020 15:20 em Notícias

Embora diga que não concorde com deputado federal, Ernesto Araújo considerou resposta de Wanming 'desproporcional'

 

RIO — O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, atacou a resposta do embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, à publicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que culpava a China pela pandemia do novo coronavírus. Em nota no Twitter, o chanceler chamou a reação de "inaceitável" e "desproporcional", pedindo uma retratação da embaixada.

 

"Já comuniquei ao embaixador da China a insatisfação do governo brasileiro com seu comportamento. Temos expectativa de uma retratação por sua postagem ofensiva ao chefe de Estado", escreveu Araújo.

 

Em relação à publicação de Eduardo, o chanceler diz que, embora não reflita "a posição do governo brasileiro", o filho do presidente Jair Bolsonaro "não ofendeu o chefe de Estado chinês". Ainda no comunicado, Araújo acusa Wanming de ter endossado e compartilhado postagens ofensivas a presidente brasileiro.

 

"É inaceitável que o embaixador da China endosse ou compartilhe postagem ofensiva ao chefe de Estado do Brasil e aos seus eleitores, como infelizmente ocorreu ontem à noite (noite de quarta). As críticas do deputado Eduardo Bolsonaro à China, feitas também em postagens ontem à noite, não refletem a posição do governo brasileiro. Cabe lembrar, entretanto, que em nenhum momento ele ofendeu o chefe de Estado chinês. A reação do embaixador foi, assim, desproporcional e feriu a boa prática diplomática".

 

'Grande veneno'

 

Após o atrito entre o Wanming e Eduardo, na noite da última quarta-feira, a embaixada chinesa e Wanming compartilharam publicações que criticavam o ataque do deputado e também citavam o presidente. Entre o que foi retuitado, uma postagem chamava a família Bolsonaro de "grande veneno deste país" e que não representava o país. O perfil da representação da China no país também compartilhou posts da cineasta brasileira Petra Costa e do jornalista Felipe Moura Brasil, que acusou o deputado federal de fazer uma "diplomacia de lacração". O pedido de desculpas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também foi compartilhado.

 

Por fim, Araújo disse que chamaria o embaixador chinês e o deputado para conversar.

 

A tensão começou após Eduardo Bolsonaro, que atua como chanceler informal do governo e foi cotado para ser embaixador do Brasil em Washington, escrever nas redes sociais uma mensagem em que responsabilizou a China pela disseminação global do coronavírus.

 

"Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas A culpa é da China e liberdade seria a solução", escreveu Eduardo no Twitter.

 

Por sua vez, Wanming pediu que Eduardo apagasse a publicação e repudiou a acusação, chamando as palavras do deputado de "um insulto maléfico contra a China e o povo chinês".

 

“A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e a Câmara dos Deputados”, disse Yang no Twitter, que acrescentou: “As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz  com o seu status como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial.  Além disso, vão ferir a relação amistosa China-Brasil”, acrescentou.

 

O embate entre Eduardo e o embaixador chinês causou perplexidade e preocupação entre integrantes do governo, incluindo pessoas próximas ao presidente Bolsonaro. Uma das avaliações é que, ao abrir fogo contra a China, o filho do presidente da República poderá atrapalhar um intenso esforço diplomático desenvolvido pelo ministro da Saúde, Luiz Mandetta, para que o país asiático forneça equipamentos hospitalares, como respiradores artificiais e máscaras, usados para a prevenção da doença e no tratamento de pessoas internadas em estado grave.

 

O Globo

 

 

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